MANTRA

Foi melhor assim
Seu rosto já não parecia o mesmo
Feio, destroçado pela rotina
Que nos engolfou e deu no que deu
Tínhamos o sexo mas era só
E éramos tão sós
Nada se sustentaria assim
Você aguentou e eu também
Agora que somos secretos
Do que ficou cada um é que sabe
As quatro da manhã você ainda invade
Mas é um quase nada passando pela cabeça
E resvalando o coração
Mas tudo sem certeza
Afasto o pensamento
Desacelero o coração
Pra não torturar
Decidido sigo
Firme
Repetindo como um mantra
Que foi melhor assim.

O ESTRANHO

Você agora é o estranho
que caminha em direção ao nada
na multidão de rostos partidos
estilhaçado por seus pensamentos primitivos.

Vá, com seu ar de quem busca algo
que nem mesmo sabe o que é.
Vá em busca de coisa alguma.
Amassa
Rasga
Queima
Teus sonhos negligenciados
e se emaranhe mais e mais
em teorias e verdades absolutas.

Morre um pouco a cada dia
sem perder seu importante ar vivo.
Só não esqueça que a roda gira
Um dia vem, outro vai
como uma onda que se alevanta.

E quando olhar para trás,
tentando se agarrar,
a água já te submergiu.
Teu tempo terá passado
 e será tarde demais.

O BEIJO - Tela de Gustav Klimt

O AMOR QUE ESTÁ

              Tentei de todas as formas trazer de volta o amor que alguém um dia levou. Mas grande engano foi pensar que em mim o amor não estava. Quando alguém se vai, o amor consigo não leva. Em nós permanece o amor. O alguém que vai, deixa a ilusão de uma oca sensação de vazio sem fundo que parece não ter fim. Fica então a impressão de esvaziamento de amor. Mas o amor que está, irreversível será. E numa manhã qualquer, a gente percebe feliz que o amor que se pensava haver fugido com o outro, nunca de nós houvera saído e agora se mostra transbordando por todos os poros.

JÁ LIVRES

Podia te ligar

Não quero

Adiantaria?

Há muito nos perdemos

Recomeçar?

Não, não quero não!

Chega de trocar tiros

Já tivemos nossos dias

Parecendo até real

Não retemos nada

Ventanias

Cataclismas

Temporais
Rosnares á distância...

...Silêncio repentino...

...Já não aguentava a chatice
Já não aguentava a mesmice
Já não aguentava a chatice da mesmice
Já não aguentava a mesmice da chatice
Vá
Vou
Nem alegres nem tristes
Apenas já livres

NADA DISSO

Em hora preguiçosa,
de sonhos permeados de vigília,
surge você matinal mente bem vinda.
Você, cristal que reverbera a luz
e que quando surge,
desarma todo o meu dia.

Aqui estou eu
entregue ao teu mistério não ensaiado,
ao teu gesto,
ao teu encantamento.
Vem me fazer sonhar
e seguir rumo ao inesperado.

Você meu sonho
Meu bem maior
Que chega sempre bem chegada
e ao ir desarticula a sintonia mágica das fadas.

Te amo
Por perto te quero
Como escolha sagrada
Como escolha profana

Ou como nada disso.

EROS E PSIQUE

AMOR CLANDESTINO

Quero te amar
Te amar clandestinamente
Saber o avesso do teu nome
numa cumplicidade secreta e pública

Não me deixe ficar
Ir embora sempre é o que quero
Não há vantagem em mim
Não há vantagem em você

Me espere mais um dia
ou não me espere jamais
Sou imortal você sabe
e sempre rondarei.

Quando você tiver dado tudo por perdido
o amor sobreviverá andando lado a lado
com o perigo certo de se tornar
da noite para o dia
 um nada absoluto.

A ESPREITA

PASSO

Por que você não vem?

Você que eu não conheço

Você que é o que eu quero

mas que nego

numa redundância louca.

Você não tem nada comigo

Eu não tenho nada contigo

Quando preciso  mandar um recado

te engano e nunca te reclamo

Se me chamas,

e me chamas,

 fico feliz.

Mas é só um  átimo,

 antes de passar à próxima tarefa.

MATRIMÔNIO DAS CORES

O ENCONTRO AZUL/VERMELHO

TRANSITANDO PELO AZUL HORTÊNCIA

DESEMBOCARÁ NO LILÁS

AMARELO É PURA LUZ.

DO AMOR ENTRE O VERMELHO E O BRANCO

NASCEU O ROSA.

PAIXÃO EM PAZ

FOI TARDE

Fugi

Não era o que eu queria

Mas hora chega sem avisar

Num repente estava eu

perdido para sempre

da tua cara

do teu corpo

do teu sopro

Estranho te saber ausente em caráter tão definitivo.

Fugi da aflição de ter por perto

Do pouco ar deixado

ACABOU

Não mais as noites de sexta

Não mais os banhos de sábado

Nem sua indiferença por todo o domingo

A liberdade agora acena

Convida

Eu, timidamente gosto

Quando a distância aumentada 

gradativamente aliviar

Lentamente

Indo

Indo

já só será um vulto

Um fantasma que já foi tarde.

UM SÓ, ACABA ANIQUILANDO

Invasivamente propôs fidelidade

Careta mente criou melodramas de vida a dois

das seis das sete das oito 

Misturado a outros seria bem melhor

Ao coração não se impõe

A seleção é in natura

sem ensaios

Um só, acaba aniquilando

Todo o pulsar tirando

Sem certeza de si

Incomoda-se com o chegar dos outros

Chora

Sofre

Esquece que só o amor transforma

FAZ PENSAR QUE, EMBORA ACOMPANHADO, EXTREMAMENTE SÓ SE ESTÁ.

VIDA

VIDA

VIDA

ESTRANHA QUE TENTO DESVENDAR

SEM PRESSA

SEM ASSIDUIDADE

SEM RITMO

VIDA

AS VEZES QUIETA

AS VEZES EUFÓRICA

NUM VAI FRENÉTICO

NUM VEM PREGUIÇOSO

CHEIA DE SURPRESA E ÓBVIO.